segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Palavra é aquela
A que assiste o sentimento
O sonho faz-se pequeno
Perante o momento.
Palavra. Não me faltam poucas.
Será o sentimento tormento assistido
Carinho carente e assíduo
Que vem sem se justificar?
As palavras assim assentam no perigo
Nem se proferem, nem se aguentam:
Ficam, assim, presas.
Animais sem fome:
Palavras, para quem as come.

12.12.2015
Uma casa, um castigo,
Um amigo que se fez meu inimigo
Num constante ser não ser que se permite,
Mais uma ou outra palavra que se emite
Num sentimento que se omite, assim eu sigo.

Deixo-me possuir num sem querer
Obstante em medo
Não somos mais que o que fazemos.
Se o nos deixarmos ser, assim o somos,
E assim o lemos.

Numa casa, um inimigo.
Possuída pela luz assim me fico
Num mal-dormir, cansaço. castigo,
Cruz contra a parede, me subjugo.
Não sou mais nem menos que o que julgo,
Sou uma tormenta de tudo.

Deixo-me possuir num sem dormir,
Num sem me vir sem que em segundos,
Sou um paralelo entre dois mundos,
Nada, um pouco mais, faço-me rir,
Sorrir no entretanto, porque sou tanto,
Até sem dormir.

07.12.2015
Sucumbem-se as memórias
Ao desassossego,
Faça-se ele fome, sono ou medo,
Histórias relatadas aos pequenos,
Escórias, restos, gestos amenos
De um impoder, impotência, demência
Infelicita-me a cultura, carência,
Faz-me rir.
Se o infortúnio de um nada me faz sedenta,
Quero morrer.
Se o amanhã incerto me prende,
Se o hoje um aperto me suspende,
Resta-me ser menos do que eu
Ou do que é meu.
Queria relatar o que me cria,
O que em mim se cria,
Um poder inconstante de tristeza,
Ser feliz, ou mais, ou menos,
Não me apoquenta a solidão.
O que será de mim,
Se eu me fizer, então?
Célebre tortura que em mim se costura,
Faço da fama uma iletrada,
Que me faça ela amada.
Se há necessidade de mais,
Talvez uma palavra, uma cerveja,
Talvez mais um copo,
Uma sequência.
Nada mais nos resta que a demência
De acharmos que somos
Todos iguais.
Não fomos feitos para isto.
Entre o sonho e a terra, um misto
De segundos esperados, desesperos,
Basta esperar um pouco, e depois sê-los,
Basta ser de todos os corpos, um quisto,
E um pequeno não-sei-quê.
Não fomos feitos para nem um pouco mais,
Porque, repito, acabamos por ser
Todos iguais.

Um copo atrás do outro,
Vazios do que somos,
Tudo o que somos é o que fomos
Depois de ontem.
Tudo o que o tempo tem
São segundos esperados,
E letra que não se entende.
Se estamos desesperados
Por um pequeno não-sei-quê,
Basta sermos de todos os corpos um quisto.
(E depois vê.)

12.12.2015

O que criámos de um ser
Nada foi que um entretanto,
Agora, vamos ver,
Criámos um poder
Talvez nada seja, por enquanto.

Se o que vier pouco mais seja
Que uma criança em devaneio,
Amamentar o que trouxer,
Venha o que vier,
De nós veio.

Cresce o sal, se me tempero,
E o que salgado é nos cria,
Faz-me um pouco mais sede que o desespero.
Não vou dizer o mundo de ninguém
Não tenho esse direito
E o meu braço esquerdo nada tem,
Que talvez seja medo, esse seu preconceito.

Não, não vou dizer ao mundo
Porque a minha voz é rouca
E a vida que se escuta, então, é pouca.

Já nada tenho a dizer ao mundo
Pois nada ele me tem a escutar.
Sabemos que nada sabemos
Alguém disse um dia.
Aquilo que eu não disse ao mundo
Mais alguém o calaria.

20.10.2015
Tenho que ver se vou
Acordar os meus medos
Que os secretos lugares em que estou
já não são segredos.

Prefiro contar as estrelas só por vê-las, devagar,
Cruzar desassossegos, rindo do meu pesar
E eu, por meu lamento, tenho que ver se vou
Pisar mais umas pedras com força.
Para saber que estou.

Sentada neste canto que de encanto não tem nada,
Falta-me a vontade.
É tarde, não é madrugada,
E eu estou aqui inteira de mim, não sou metade.

Do que estas paredes viram, que não são surdas, são cegas.
Estou calada, faço de mim um nada.
Inteira, não sou metade, deixo metade de mim.
E vou agora, tenho que ver se vou,
Não fico nem mais um minuto neste corpo,
Que tanto aguentei dele como ele aguentou,

24.09.2015

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

São pesadas as rimas,
Inteiramente feitas de pedaços,
E as linhas
São traços onde se escrevem as agonias.
As pequenas coisas que escrevi,
Li-as.
E não sou eu.
Nunca fui,
Nem as rimas.
Fujo à poesia como tortura sedenta de mais,
Papeis rasgados de um livro,
Perdidos no chão.
Achava eu haver conseguido
Um momento.
Mas a poesia
É para quem a cria
Um alento à solidão.
Rios que correm
Abrindo caminho
E achando-me louca, riem de mim,
E eu definho.
São pesadas,
Inteiramente feitas de pedaços,
As rimas,
A quem, em último caso,
Peço carinho.

domingo, 14 de junho de 2015


27.03.2015

Agora deixas que o tempo morra
Feito dono desmedido do que lhe atenta.
Faz com que o sono deixe antes
A tua mente lenta
E a vida corra.

Agora já não sabes o teu nome,
Aquilo que escreves no teu corpo é carícia sedenta.
Não faças mais nada, espera, da vida o seu perfume,
Que a vida é mais vida que aquilo que o corpo tenta.

Agora podes ser só mais um no teu espírito.
Pensa, não faças, dança, que o tempo é finito.


27.03.2015

Foi o que foi este entretanto
Em que me torno
Dona de mim mesma, de ti,
Dos afins de um tempo
Em que sorri, morri.
No desespero em que faço
Mais um pouco de mim,
O que escrevo não me faz minha;
Tão pouco dona de mim,
Sê-me então.
Fui mais um pouco, talvez, talvez não.
Sou o que o tempo traz e me deixa na mão.